segunda-feira, 17 de julho de 2017

Exorcismo - Descontaminação - Desobsessão

Desde logo é de se destacar que a Igreja Latina apregoa que o ato de expulsar espíritos maléficos deve receber prévia comunicação ao Bispo local e autorização, salvo engano, de ninguém menos que o próprio Bispo de Roma.

No entanto, paralelamente às inúmeras polêmicas dos hermeneutas dos Evangelhos Canônicos, notadamente dentre católicos e evangélicos, é inescondivelmente lícito interpretar que Jesus autorizou as pessoas de digna conduta moral a expulsar demônios.

Veja-se adiante (vários outros versículos poderiam ser mencionados, de outros evangelistas; mas os seguintes nos bastam). 

Evangelho de Lucas:

9:1 - Reunindo os Doze, Jesus deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças,17 - Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!»18 - Disse-lhes Ele: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago.19 - Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano.20 - Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.»

Fica evidente que não apenas os doze apóstolos podiam expulsar demônios. Logo adiante, o texto expõe o ensino do Cristo a setenta e dois discípulos, não havendo nenhuma distinção.

O trecho em que Jesus assevera que os discípulos deveriam se regojizar por "terem seus nomes no Céu" é óbvio por si só: o sucesso da expulsão de espíritos maléficos depende fundamentalmente da autoridade moral de quem os comanda a se retirar.

Por outro lado, nada de errado existe em se estabelecer um ou vários rituais que possam ser seguido pelos clérigos, ou por quem quer que se disponha e se ache em condições de impor comando a espíritos obsessores convulsionários, que tantas vítimas fazem desde sempre.

Mas os ritos servem apenas e tão somente para o fim a que se destinam, ou seja, dar disciplina e ser um sustentáculo espiritual para que a empreitada possa se desenvolver com maiores chances de sucesso.

Recentemente a mídia noticiou que o Vaticano reativou o Curso de Exorcistas para os sacerdotes em Roma. No Brasil, segundo fontes midiáticas variadas, existem cerca de 30 (trinta) sacerdotes autorizados a realizar um exorcismo.

A questão mais relevante na verdade não é essa.

Óbvio que se alguém pretende dar comando de expulsão a um espírito obsessor renitente e maléfico há de ser uma pessoa de sólida retidão moral. O problema maior é que a vítima de uma situação assim, ou alguém de sua família, pura e simplesmente não tem tempo para delongar-se em um processo que:

  • se inicia com a busca de ajuda na Igreja;
  • tem que passar pela opinião inicial do padre local (que nem sempre se sente à vontade com essa situação);
  • tem que formular um pedido ao Bispo da respectiva Diocese;
  • tem que passar pela opinião do Bispo (que, da mesma forma, nem sempre é favorável a problemas desse jaez);
  • tem que aguardar o envio do pedido ao Vaticano;
  • tem que aguardar o recebimento da resposta do Vaticano.

Claro que, no caso das Igrejas Evangélicas, até onde pude averiguar, tudo se dá de modo bem mais célere, dependendo basicamente do pastor ou conjunto de pastores que ali atuam. Ainda assim, evidentemente não se faz coisa alguma senão depois de um mínimo de cautelas.

Então, a questão do TEMPO, da demora, do excessivo intervalo entre o início dos fenômenos e o início do ritual, que deveria ser o elemento mais relevante a se discutir, na maior parte das vezes fica em segundo plano. E olhe que não são raros os relatos de rituais que se arrastam por semanas, ou meses, depois de iniciados.

Não é à toa que muitos indivíduos sob perturbação espiritual (sim, já fazendo exceção dos histriônicos, esquizofrênicos paranóides etc) procurem outros caminhos para a ajuda tão desejada.

Faz bem pouco tempo a mídia bateu pandeiros por conta da ação de sacerdotes dos Arautos do Evangelho que, identificando a presença de espíritos perturbadores, passaram a tomar providências de exorcismo sem o longo processo formal de pedido de autorização.

Não vou defender, nem acusar ninguém.

Só digo que se uma pessoa tem vida moralmente regrada o suficiente para se manter incondicionalmente resistente às miríades de oportunidades de realizar conduta imoral, antiética, vivenciando o tão famoso e quase nada aplicado "orai e vigiai", não vejo o porquê de se lhe vedar, proibir, perseguir, menosprezar eventual atitude de entoar a prece que lhe parecer melhor e pedir, em nome de Jesus, que o espírito convulsionário se retire.

É um sofisma afirmar que seria perigoso defender esse ponto de vista. 

Se a pessoa é um homem comum, sem virtudes suficientes, simplesmente NADA ocorrerá. Ademais, mesmo que se trate de alguém virtuoso o bastante para ter sucesso, a vítima da obsessão espiritual só permanecerá livre se ELA TAMBÉM PASSAR A TER CONDUTA RETA.

Simples assim...

Conquanto simples, o que mais se vê dos casos de desobsessão bem sucedidos é que o sujeito não se esforça na modificação interior, mantendo (até recrudescendo) velhos hábitos mentais que o levam ao mesmo desfecho, ou até pior.

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